Cecília

O vento Batia em seu rosto, ele sorriu com essa sensação refrescante, o sol ainda era quente, mesmo ao entardecer, as simpáticas pombas gorgolejando entre suas pernas, bicando avidamente os pequenos pedaços de pão jogados por ele.
Respirou fundo, o cheiro da praça preencheu seus pulmões, olhou ao redor. pequenos grupos de estudantes e jovens familias passeavam nesse agradável ambiente, cachorros corriam alegremente ao redor de seus donos, a praça Roosevelt apesar de anplamente arborizada, conservava uma boa visão de seu interior.

Resolveu se levantar , uma forte tontura oprimiu a imagem do parque. ficou imóvel até essa sensação desagradável passar, depois disso foi invadido pelos sentidos, o cheiro quente da barraca de pipoca atrás dele, lhe fez relembrar sua infância, lembrança essa não muito bem vinda, o som dos pássaros, e o riso estridente das jovens estudantes, a felicidade palpável das crianças ao seu redor, um lindo fim de tarde.

Olhou o relógio, 17h 46m , ainda iria demorar um pouco, a impaciência dominou-o imediatamente, olhou para a cafeteria, o reflexo do parque no vidro da porta de entrada já lhe era familiar, olhou o relógio denovo; 17h 46m, o tempo não passava.
Suas mãos suavam, retirou o lenço do paletó, secou suas mãos e decidiu dar uma volta pela fonte do parque, como fizera já várias vezes, mas sempre de olho na cafeteria, completou uma volta e imediatamente olhou o relógio, 17h 50 m, apenas 10 minutos para ela sair.

Inseguro ele pensava até quando iria continuar com isso, quando poria o seu plano em prática, sera que deveria entrar? até hoje nunca tivera coragem.
Olhou para suas calças, que mesmo de pé conservava pequenos farelos de pão, horrorizado agitou as calças avidamente. resolveu atravessar a rua e observar seu refrexo numa das vitrines. esperando pelo sinal, ao seu lado, se encontrava uma senhora de óculos escuros e uma bengala-guia, sorriu ante o pensamento de ajudar uma "velhinha" a atravessar a rua.
- Quer ajuda senhora?

Sua voz soou firme e decidida, a velha balbuciou algo e pegou em seu braço, durante a travessia não disse nada, assim que indicou-a que chegava ao outro lado, o rosto da velha se iluminou, abriu um sorisso e soltou um enigmático "boa sorte", desconcertado olhou a pequena senhora em seus humildes trajes se distanciar.
17h 53m, cada mudança de ponteiro estremecia todo o seu corpo, decididamente se encaminhou para a vitrine mais próxima, nem se dando conta do que existia do outro lado do vidro, oque importava era que ele estivesse impecável para quando ela saisse; ajeitou o cabelo, o paletó e fez uma "revista" em toda sua vestimenta, se sentia confiante e bonito.

Não era jovem nem velho, 32 anos e com uma saúde invejável, apesar da barba por fazer, o seu físico era excelente, forte, moreno e com o cabelo estilo militar, parecia um soldado vestindo terno, esse aliás, sem nenhum amassado ou sujeira, só não gostava do sapato, muito desconfortável e rígido, mas com certa nostalgia, se lembrava dos poucos bons momentos, que passara ao lado de sua mãe na capital. "com o tempo amacia" dizia ela quando reclamava dos tênis novos, insistentemente comprados pelo menos 2 números menores que seu pé.
Resolveu andar no passeio da cafeteria, ainda longe viu um casal saindo; olhou novamente o relógio e estremeceu. 17h 58m, o coração disparou e com um sentimento de medo e ansiedade, foi se aproximando a passos exitantes.
2 estabelecimentos separavam-o da cafeteria, a cada passo, a cada girar do ponteiro do relogio, sentia sua respiração abafada.
Finalmente reuniu coragem, e com 4 passos firmes e decisivos foi de encontro a porta, quando sentiu a macaneta de ferro, congelou-se, a porta se abriu em sua direção, rapidamente desvio-se, mas para sua surpresa, estava diante de sua musa, linda e tão naturalmente provocante.
Ela olhou diretamente em seus olhos, e uma alegria o inundou, não tinha palavras e por 1 segundo estava frente a frente com sua paixão platônica, mas não sabia oque fazer.
- Me desculpe, quase te acertei.
disse ela com um lindo sorriso, seu perfume invadiu-o, era tão doce e feminino
- Tudo bem, deixe-me abrir para você
e puxou a porta até seu limite
-Obrigado.
Disse ela, e saiu em direção ao sinal,
Ficou indeciso em oque fazer, ir atrás dela ou esperar até amanhã?
Observou-a enquanto ela se distanciava, "vai ser hoje" pensou ele e começou a segui-la
Ela estava parada no sinal e quando ele começou a andar em sua direção ela o olhou novamente, um calor lhe invadiu, ela estaria sorrindo? estava distante, não tinha certeza.
Resolveu deixa-la se afastar um pouco, ainda não tinha coragem de falar nada.
Mas quando ela começou a atravessar a rua ele tambem começou a andar, estava a uns 30 metros de distância, sentia seu coração pulsar na garganta.

Ela tomou a rua ao lado do parque, em direção as ruas movimentadas do centro, ele parou derepente, ele imediatamente se virou de costas, para não ser reconhecido, pensou em se abaixar para amarar os sapatos, mas em um acesso de coragem se virou em sua direção, mas ela mexia em sua pequena bolsa, retirando de seu interior pequenos fones de ouvido, colocou-os e seguiu o caminho

Ela se aproximava de um cruzamento movimentadoe ele decidiu fazer oque nunca antes tivera coragem, aumentou a velocidade de seus passos, decidido a finalmente conversar com ela, mesmo nem sabendo seu nome.

O sinal abriu e ela começava a atravessar a rua, ele se aproximava, já quase sentia o cheiro doce do perfume de sua amada.
Como um trovão ele escutou um som que lhe apavorou por completo, olhou para a esquerda e viu uma pick-up se aproximando a toda velocidade indo em direção a moça, ele estava a 10 metros de distância, ela não tinha notado essa aproximação.
Sem pensar venceu a distância que o separava da moça, e em um mergulho a empurrou em direção a calçada.
Imediatamente sentiu o impacto, e ouviu seus ossos se estraçalhando sob sua pele, foi arremessado a quase 10 metros de distância, quando pousou no chão a dor foi mortal, não conseguia conseguia sentir nada além da dor.
Escutou o rugido do motor em fuga, o grito e agitação causado pelo seu ato.
Abriu os olhos e viu o ceu do entardecer dominando seu campo de visão. a dor era insuportável, sentia extrema dificuldade para respirar, e escutou passos apressados vindo em sua direção, e seu coração se acalmou.
Era ela! que se abaixou e segurou seu rosto com muito cuidado, o calor de sua mão aliviou sua dor, a visão embaçada vislumbrou sua linda face.
-Meu deus! como você está?
Ela olhou desesperadamente em volta, gritando por socorro.
-A Ambulância já está vindo, aguente firme!
Ele viu um esfolado naquela delicada face, e apontou para ele.
- Não e nada! respire, voce vai conseguir!
A dor agora voltava em ondas insuportáveis, já não conseguia mais respirar, a visão começava a
escurecer, reuniu suas últimas forças e disse:
- Q.. q.. Qual seu nome?
Ela fez uma expressão de surpresa com a pergunta.
-Meu nome é Cecília, mas não fale, guarde suas forças!
Ele sorriu e antes de feixar seus olhos balbuciou.
-Cecília.
E se foi.





2 comentários:

Mark R. Fields disse...

Bacana, gostei do estilo... faz tempo que não escrevo nada, mas era mais ou menos nesse estilo aí assim que costumava brincar de escritor... continue!

Simone disse...

Ei muito bom esse conto!!
Tão envolvente que consegui ouvir o tic-tac do relógio no inicio...sorrir com o jeito tímido atrapalhado em que ele abriu a porta...enxergar o suor que descia sobre o rosto do rapaz no percurso até Cecília...entristecer-me com o trágico fim...

Por que parou com seus relatos??
Cecília continuou viva...ou o rapaz descobriu outra realidade...
Mantenha-se,é mt bom no que faz!!!
=}

Postar um comentário